segunda-feira, 15 de julho de 2013

EM BOA COMPANHIA

Fui a um evento cultural em São Paulo em que o excelente poeta alagoano Raimundo Palmeira declamou "Ontem foi Sábado" muito bom e inspirado no outro melhor ainda, de Vinícius, "Porque Hoje é Sábado". Como não sei escrever como nenhum dos dois, fiz este pequeno texto (textículo?) na sequência da semana, e posto exatamente para aproveitar o dia de hoje.


Segunda feira, cara de domingo

"Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças feiras mais cinzentas, têm o direito a converter-se em manhãs de domingo".
Thiago de Mello - Os Estatutos do Homem - Artigo II .

A gente sempre reclama da segundona, né? É a ressaca, a rotina de sempre, enfrentar o chato do chefe, é saber que o próximo sábado demora uma eternidade, é voltar pra dieta por dois longos dias interrompida. Mas o que dizer quando acordamos com a sensação de que temos de ir a feira, o que só fazemos aos domingos? Que o sol está nos convidando a ir à praia e que temos certeza que encontraremos lá muita gente e especialmente os amigos?
É realmente uma segunda bem diferente, talvez seja a proximidade do Natal. Ou a condição de aposentado, adquirida após muitas iguais e massacrantes segundas chatas com chefes idem, impressão de ser escravo da sobrevivência, do instrumento de tortura chamado trabalho, da rotina neurotizante de quem foi bancário (leia-se: auxiliar de ladrão), por 25 anos.
Será que uma segunda assim pode ser encarada como um ano novo? Ou mais ainda: como um recomeço (ou ressurreição), para quem por tanto tempo se encontrou perdido. (Morto? Pelo menos quando trabalhava fiquei por longo período lotado no arquivo
que leva este nome, mas que em virtude da turma que ali trabalhava ganhou o apelido carinhoso de Setor Pé na Cova.)
Pode ser o milagre há tanto esperado, batalhado, buscado talvez desde o parto, que já foi bastante difícil, infância com mais dificuldades ainda, muita batalha pelo rango, que infância mesmo...babau.
Uma segunda sem obrigações, sem a vida igual areia, esvaindo-se em uma ampulheta.
58 anos de luta, faltando poucos dias para somar mais um, e enfim encontrar o dia que queria para toda a vida e ele me vem, ironicamente, na segunda-feira. Deus, como disse o poeta, deve ser mesmo um cara gozador. Quem sabe um dia ele me explica por que
fez as segundas tão chatas e depois me presenteou com uma tão maravilhosa. E sem estresse ou ansiedade, não tenho qualquer pressa pela explicação.

Novembro de 2007.




Um comentário:

  1. O espaçamento maluco foi por conta do Blog, que também não deve gostar de trabalhar na segunda.

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