sábado, 24 de janeiro de 2015

AMOR FILIAL, AMOR PATERNO, AMOR, AMOR, AMOR.

MEU BICHINHO QUE SE FOI. COMO FALO NO TEXTO, GANHEI OUTRO, ATÉ MAIS INTERESSANTE QUE ELE, MAS A TRISTEZA PELA PERDA É GRANDE.

A Morte do Professor

Antes de mais nada um esclarecimento: ele foi batizado de Professor; não era um professor de verdade, embora, pelo menos a mim, tenha ensinado algumas coisas. Como ele era bem diferente dos demais, estava aqui e ali me fazendo escrever uns pequenos textos, ou citando-o, junto com a esposa Sofia, em alguns outros. Vou fazer uma interrupção pois faz poucas horas que ele morreu e eu já chorei um bocado e me encontro bastante triste. Voltei pouco tempo depois porque lembrei-me que nunca tinha chorado diante da morte, e creio que deve-se ao fato de esta ser inesperada. As outras pelas quais passei foram de pessoas idosas, ou foram lentas e esperadas (por doença) ou ainda, até desejadas, no caso, para evitar mais sofrimento. Meu Professorzinho (como o pai, João Vitor, e a avó, Ana Paula chamavam) morreu de complicações advindas de um acidente.
Ele e Sofia formavam um belo casal de calopsitas e tiveram mais de trinta filhos, que por não podermos criar, vendemos ou doamos, mas o interessante é que há poucos dias ganhamos um filhote superespecial: canta, conversa, dá beijos na boca e ainda estalados. Muito carinhoso, se deixar ele passa o dia inteiro pendurado no ombro. Também muito novo, e como não é filho foi logo passando a conversa na Sofia, e ganhando a inimizade do Professor, que sempre foi super apaixonado e ciumento.
Há uma semana minha mulher chegou em casa meio aborrecida e cismou que a dita cuja estava suja. Mandou vassoura e pano pra tudo que é lado e abriu um pouco mais uma das janelas, além de destravar e depois não travar de forma correta, uma das portas. Em pouco tempo deu um vento mais forte e foi aquele estrondo da porta fechando. Eu e Professor nos assustamos e, eu fiquei com vontade, mas ele sumiu mesmo. Procuramos por todo a casa e eu até rodei por diversos quarteirões em busca dele sem sucesso. Perguntamos a vários conhecidos e pedimos para que perguntassem aos seus conhecidos mas não tivemos nenhuma resposta. Passamos a admitir que o tínhamos perdido, mas um dia e meio depois ele me aparece semi-moribundo. Tinha passado o tempo todo atrás de uma porta, sem dar um pio sequer, logo ele que atazanava nossos ouvidos quando algo não estava ao seu gosto. Não entendemos nada. Passamos a lhe dar soro caseiro no bico e ele parecia que estava reagindo, mas uns dois dias depois, como ele não comia sólidos, minha mulher consultou uma veterinária, que mandou dar-lhe papa apropriada para passarinhos. Ele comeu um pouco e não resistiu, umas duas horas depois papocou.
Como eu sempre falo ou penso que sou bom para terminar textos, aqui vai o que me levou a escrever este. Logo que ele voltou do túmulo, o Nem, nosso filhote adotado, aborrecido porque achava que já tinha ganhado a viúva, começou a brigar, e muito, com ele, Professor. Tínhamos que separá-los a toda hora pois o Professor, debilitado, não tinha como se defender. Ocorre que umas doze horas antes de falecer, eu presenciei uma cena inusitada do Professor: ele chilreou alguma coisa, encostou no mais novo e deu-lhe um beijo. E o outro não o recebeu a bicadas, ao contrário, retribuiu o carinho, num gesto que eu achei lindo, da parte dos dois, e que me parecia, naquela hora, um pedido de desculpas e de amizade aceito. Posso estar “viajando” mas o que me fez mais chorar foi que depois aquele gesto me pareceu muito mais um pedido para que o moleque cuidasse bem da viúva e dos quatro recém-nascidos, que ainda se encontram no ninho, e comem no bico. Ele aceitou e está cumprindo a promessa. Deve ter menos de um ano, mas como menino prodígio que é, já alimenta os filhotes.
23/01/2015.