domingo, 22 de setembro de 2013

DOIDOS

ESTE EU PUS EM "TEXTOS DE HUMOR" MAS SEMPRE QUE ENCAIXAR VOU POSTAR AQUI TAMBÉM, POIS SÃO FREQUENTADORES DIFERENTE E AQUI A GENTE SABE O RETORNO, QUER SEJA EM COMENTÁRIOS QUER SEJA SOMENTE PELA ESTATÍSTICA. SEGUE COM UM ABRAÇO ESPECIAL AO AMIGO BETO ACIOLI, DE PERNAMBUCO, LUGAR CITADO NO TEXTO.


Meu Universo II – Universo Paralelo – Duro de Ler II


Quando tínhamos no Estado as semifinais do campeonato brasileiro de xadrez os papa-gerimuns (riograndenses do norte) sempre nos mandavam um simpático velhinho que por sinal jogava muito bem e normalmente segurava uma das vagas para a final do campeonato. Certa vez, iniciou o torneio jogando com o Tenilson e este, como tem feito com outros bons jogadores, arrancou-lhe um empate. Seu Nery se surpreendeu com o resultado, saiu balançando muito a cabeça e um sacana, de gozação, foi perguntar se o moleque usara as peças vermelhas. Aí quem ficou mesmo vermelho foi o velhinho que, nada simpático, saiu balançando mais ainda a cabeça e resmungando que não jogaria com as tais peças. Eu não jogo, eu não jogo, eu não jogo! Como disse comigo uma ex-colega de serviço, parecia menino pirracento.
Desta vez vou falar só de um filósofo mas com três filosofadas. O nosso duplamente competente Rogério Zanon, que pouco fala mas quando o faz nos brinda com boas citações ou criações próprias. Sempre joga nas primeiras mesas, mas alguém caiu na bobagem de perguntar o que ele tava fazendo na mesa um, e ele respondeu na bucha: olha, eu não fiz nada pra estar aqui, só não sei o que vocês fizeram para estar aí. Estas são quase as mesmas palavras de Péricles, governante ateniense, após a segunda invasão peloponésica. Em outra oportunidade ele, achando que os jogos tinham se encerrado, entrou na sala assobiando e um colega que já estava muito macho porque não conseguia vencer um capivara, subiu nas tamancas. Rogério, com aquela calma toda, sussurrou: foi um passarinho! Numa terceira vez ele, não encontrando gente ou canário famosos para citar, atacou de alfaiate mesmo, que também deve ter lá sua sabedoria: peão é igual a botão de calça, quando cai um, cai tudo. Que que tem o c. (chadrez) com as calças. Dizem que alguém tentou definir sua corrente filosófica e esbarrou num trava-língua: ornitopericlianoalfaiatista. Isto sim, é palavrão, e não aquele citado antes e que só possui dois caracteres.
Mas falemos de espetáculo e não é nenhuma partida que ganhou prêmio de beleza. O show foi por conta de uma colega que lá em Pinheiros inventou de imitar todo mundo e cada um tinha um trejeito, uma frase, uma forma peculiar de enfrentar o mate iminente. Os mais bem humorados riram, mas uns poucos não ficaram nada felizes. Pena, pois ela, educada e respeitosa como é, encerrou prematuramente a carreira, e olha que esta parecia bem promissora, eu já tava até pensando em faturar algum, como agente artístico. Arte e loucura na maioria das vezes andam de mãos dadas, e nem sempre são bem compreendidas. Faz parte do... (Cazuza).
Certa vez eu estava no INSS, fazendo perícia, e reconheci um velho parceiro que não via há muito tempo. Como o lugar já me tirava do sério fingi não vê-lo, mas por coincidência um ou dois dias depois encontrei-o em uma pacífica rua e, para chamar sua atenção e no intuito de me desculpar, freei o carro bem próximo dele. Ele não me conheceu, saiu xingando várias gerações de todos os motoristas imprudentes deste mundo, enfim, tava pior que eu, passou facilmente pela perícia e eu tive um pouco mais de dificuldade.
Este mesmo colega, quando ainda trabalhava, era vigilante, ou como diz o Gatto, dormilante, e um dia lá pela madrugada acordou com um barulhão de meter medo, e meteu mesmo foi bala pra tudo que é lado até acabar a munição, quando então se trancou em uma sala e pediu reforço. Chegado o salvador reforço fizeram uma completa “varredura” terrestre e, não encontrando nada, um deles subiu ao sótão cujo forro fora consertado recentemente. Pisou em uma tábua mal pregada e despencou com forro e tudo indo parar no pronto socorro. À luz do astro rei (mesmo de quinta grandeza), descobrimos que o invasor era uma pilha de caixas, que mal arrumadas, despencaram, e agora estavam quase todas baleadas. Não se iludam que isto não é fruto da imaginação do autor, a realidade às vezes supera a ficção. Aconteceu mesmo e foi no almoxarifado do banco onde hoje trabalha meu amigo, de muita percepção e sensibilidade, Eduardo Fernandes. Voltando ao nosso kidmatacaixa, acho que na família havia uma falha no DNA de reconhecimento das pessoas, pois um irmão dele para quem eu sempre dava um trocado para comprar pão ou cigarro, certa vez, eu já com o dinheiro na mão, ele me jogou um belo paralelepípedo. Este é literalmente maluco de pedra.
Logo que comecei a mover as peças e não digo aprender porque não aprendi até hoje, tinha um companheiro do mesmo nível de jogo mas bem acima na escala Pinel. Nascera em Exu, Pernambuco, terra do saudoso Luiz Gonzaga e, como este, tinha uma enorme lua. Ocorre que quando a lua dele estava cheia, metia-se em um buraco que cavou no quintal de casa (dizia que era seu bunker) e ali mesmo recebia as visitas, tomava seus birinaites e, às vezes, até jogava um xadrezinho, se alguém topasse sentar na porta, ou melhor, na boca do buraco. É mole ou quer mais? Não, não quer, né? Porque tem sim, mas para mim chega. E não se preocupem porque não teremos um Duro de Ler III, que certamente seria ruim de matar como foram os filmes. Lembrete a um possível leitor desavisado: não se envergonhe de ter lido, pois as películas em referência, apesar da crítica, foram sucesso de público.

Outubro (vermelho) de 2007.