terça-feira, 31 de janeiro de 2012

meu diamante

Meu Diamante e Sua Pérola

Ele, de milênios, é inconquistável
A pedra mais dura, ultrarresistente
Ela tão nóvel, frágil, amiga e afável
Límpida, delicada, plácida e carente.
Ele opaco quando da terra retirado,
terá que ser lavado, lapidado e polido.
Ela vem perfeita em seu estojo aveludado
Polimento ou lapidação não lhe é permitido.
Ele traz ocultas, no fundo da alma, as virtudes
Disfarçadas, em seu âmago, envoltas na lama.
Ela já atingiu ampla e qualquer angelitude
É toda e somente um coração que ama.
Exceto ela, unicamente um outro diamante
O poderá polir, ferir, o coração machucar
Ela apaixonada, tanto e só, sua amante
Que não cogita ou aceita ele a abandonar.
Fará sua centelha interior brilhar à superfície,
Explodirá, de mil quilates, um brilhante.
Ela tirada da água lodosa, da imundície
Mas tão bela, límpida, terna e confiante.
Far-lhe-á reluzir qual raios de sol
Será rei dentre as pedras preciosas.
Ela apurará seus sentimentos no crisol
Sempre tão perfeita, sensível e carinhosa.
Símbolo da mulher e de toda sua pureza
Vive cercada de romance e magia
Ele e ela presentes naturais de muita riqueza
E união ímpar que inspirou esta poesia.

Tafnes/Stenio.
Contradições

“Uma parte de mim é permanente
Outra parte se sabe, de repente”. Ferreira Gullar.

Se em um momento posso ser a alegria da suave brisa,
Brincando com as flores na primavera,
Em outro posso ser o frio e cortante vento
Das madrugadas de inverno polar.
Posso ser o calor da areia do Saara
Ou dos corações de jovens amantes,
Ávidos por ficarem a sós.
A sede do peregrino ou a saciedade após o sexo amoroso e lento.
Fui burro de carga e,
Depois, dono dos burros, mas...
Nenhuma dessas profissões me satisfez.
Se escravo não quis ser, também não poderia
Ser feliz em dominar, reproduzir a servidão humana.
Se algumas vezes passei fome,
Noutras me empanturrei,
Sem que me sentisse compensado.
Por vezes fui a palavra ferina,
Noutras fui puro mel
Adoçando a mim mesmo pois a quem me era mais caro.
Mas de certa forma me culpo por tanto egocentrismo,
Eu queria mesmo era adoçar o mundo!
Se no frio foi fácil ser cobertor,
Não posso falar o mesmo de quando tentei ser orvalho, no calor.
Muitas vezes procurei navegar
No profícuo mar de tranqüilidade do zen-budista,
Mas ancorava na tranqüilidade inócua e inóspita de um mar de la luna.
Se já fui um número de INSS ou PIS,
Também já fui versos.
Na criatividade romântica de uma bela poetisa.

Stenio, setembro de 2008.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

PÉROLA RARA

Pérola Rara

Nas profundezas abissais de um oceano mental (ou virtual) perdi uma pérola. Suas feridas, herdadas da mãe-ostra, mal cicatrizadas ou de todo não, eram por demais doídas e não suportaram o atrito contínuo com a dura realidade. Ela fugiu. Ela que já vivia em fuga, mimetizada em areias cinzentas, escondendo-se até de si mesma e o quase sempre iludido poeta cometeu mais um de seus monumentais erros: quis trazê-la à luz. Com gestos inábeis, atabalhoados movimentos em busca da vida, sem nem mesmo a paciência necessária à descompressão. E aí o que encontrou foi a morte quando sua adorada e encantadora pérola adentrou a um buraco negro, onde é possível esconder a soma de todos os corpos físicos, ou nada, pois de lá nada volta. Sem ar, sem luz, sem razão, ele espera e reza, mesmo sem ter fé.
Ela sumiu no Triângulo das Bermudas, que é o buraco negro marítimo, e não deixou qualquer rastro. Nem a brisa do mar, que já não é tão suave, dá notícias dela.
Alguns poetas, quando tristes produzem obras primas, outros secam por dentro, morrem. Mas dizem que ninguém morre de tristeza. Acredito que quem pensa assim não conhece o âmago de alguns poetas, ou mesmo de outras pessoas, bem sensíveis, mas não poetas.
Morre-se sim, de tristeza. Ou ficar seco por dentro, para quem tem por hábito, criar, escrever, poetar, não é morrer?
O vazio também é abissal, e não encontra na matéria algo que possa preenchê-lo. A espera do milagre pode durar a vida, mas o que lhe resta que não seja rezar? Louvada ela foi à exaustão mas a poesia não deve ser das melhores, pois não teve a força de conservá-la ou trazê-la de volta quando debilmente lhe suplicou através de uns poucos e quebrados versos.
Ele fica a pensar se ela estará mesmo nas profundezas do mar, ou se de forma consciente ou não procurou o suicídio nas areias escaldantes dos desertos, ou ainda se não está volateando, ao sabor do vento, louca completa que perdeu o rumo, não sabe mais quem é ou onde mora. Mas provavelmente esta última é mais opção dele que dela.
Pode ser também que ela tenha usado de magia, pois sem dúvida tinha a beleza e os poderes de fada, e após tornar-se minúscula, escondeu-se em uma célula qualquer do músculo da vida, daí este incômodo no peito do escritor, que arranha, perturba, distorce sua vida e que alguém mais sábio já batizou de ... saudade.

Stenio, maio de 2009.

INGRID

INGRID BETANCOURT

Após seis anos eclipsado reaparece o sol de teu sorriso
Sensibilidade e força demonstra a todo instante
E muitos pesadelos são nele extravasados.
Em teu longo relato, a postura ereta
Parece dizer fadiga tu és nada, ou mesmo o tempo.
Da fibra mais resistente é o teu corpo
Do mais doce mel é teu sorriso.

De nada e para nada é o mal que nem sei se te fizeram
Pois que serviu pra temperar o aço de tuas veias
E para mostrar ao mundo a candura de tua alma.
Voltaste radiante de luz própria acumulada
No mais longo inverno polar que se conhece
Sem que os cegos animais que te prenderam
Tenham atingido o brutal intento de também cegar-te.

Nem sei se estiveste mesmo presa, pois espírito,
E ainda tão forte, não se prende.
E não renascestes pois que nunca foste morta.
Tua visão, ao contrário, está mais límpida
E arguta. És a águia, cujas asas não se cortam.
E solta e leve, linda e forte plana
Em céu de brigadeiro. É primavera.

Julho de 2008.
José Stênio Ferreira Luz
e-mail: stenioluz@yahoo.com.br