quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O PROFESSOR E A URUBUZADA

A COISA QUANDO ANDA RUIM, NADA DÁ CERTO E POR MAIS QUE O URUBU REZE, O BOI NÃO MORRE E ELE, URUBU, FICA SEM COMER. É A LEI DE MURPH, NA QUAL EU NÃO ACREDITO, MAS FALA QUE SE ALGO PODE DAR ERRADO, VAI DAR.

Praga de Passarinho

Como sou muito bom no ramo de rogar praga, logo me vieram à mente vários títulos para este texto. Praga de Urubu, que no Ceará, minha terra, dizem que é muito forte, tanto que faz o de baixo cagar no de cima. Praga de madrinha que de acordo com Tom Jobim, não tem perdão, pega que nem chiclete em sola de sapato. Praga de turco, que certa vez fui vítima de uma, e como turco gosta de economizar em tudo, ele aproveitou e jogou logo em dois. Tive que utilizar meus santos fortes, e me livrei da bendita, e aí o outro alvo caiu sobre a minha mesa, quebrou esta e a bunda, foi parar no hospital. A mesa quebrada não satisfez o praguento e à noite minha parte ainda estava em vigor, aí um outro caiu no meu lugar indo parar no mesmo hospital. Praga de baiano, que normalmente vem acompanhado de uma boa mandinga, e aí quem se livra? Há algum tempo tivemos aqui na Caixa Federal do ES um gerente regional muito chato que desagradou a bastante gente. Juntamos eu e mais meia dúzia de bons de praga mas, o melhor que conseguimos foi mandá-lo para a Bahia. Eu fiquei a duvidar de meu poder pragatório mas, menos de um ano depois o disgramado ganhou uma de baiano. Resultado: perdeu a função e como prêmio foi atender no balcão de uma Agência onde o gerente era um inimigo seu. Acho que a minha, como a do turco, ainda estava em vigor.
Com tudo isso, por que prevaleceu então Praga de Passarinho? Ora, se eu pusesse o nome de Praga de Urubu, ele poderia alegar preconceito de cor, pois é meio escurinho; se fosse de madrinha eu estaria sendo injusto com estas que normalmente são boas e meu passarinho não o é; de turco, aí seria injusto com ele pois turco não dá nem bom dia de graça e ele me dá: faz muitos filhos, que eu vendo para os mercadores, como os turcos fizeram com José. Então só restava Praga de Baiano e quando ele chegou aqui era mesmo meio baiano pois só queria saber de cochilar, tanto que ganhou o nome de Professor, em homenagem a minha mulher, que ensinava na escola pública, acordava muito cedo e passava depois o dia dormindo. Mas ele passou de fase e hoje é bem esperto: pra fazer filho e rogar praga!
Passadas as preliminares, e como não vai ter meio de jogo, vamos aos finalmentes. Que praga braba foi que este moleque me arranjou? Depois de 13 (tinha que ser 13?) anos de briga de morte com a Caixa Econômica, eu finalmente venci um round, e recebi uns trocados. Rapidamente minha nega inventou que eu tinha que tirar passaporte, e nem vou dizer pra onde ela quer ir, pra não dar azar ou ganhar mais uma praga. Fomos então tirar o tal do passaporte e tinha que passar primeiro no computador. Passamos e ele, nem sempre tão inteligente, nos mandou para a sede da Polícia Federal em São Torquato, Vila Velha, na divisa com Vitória. Lá pegaríamos somente uma informação mas, os bem mais inteligentes humanos nos mandaram lá para o Shoping Vila Velha, que é no outro extremo. Eu já quis voltar dali, mas minha paciente mulher insistiu e lá fomos nós. Conseguimos a informação mas, mas, mas, eu teria que tirar uma nova identidade porque a minha é de 1969 (será que não vale porque foi emitida pela ditadura militar?). Aqui eu zuretei e falei que não ia mais pra lugar nenhum, que ela fosse com quem quisesse, mas ela não se deu por vencida e na calada do dia, convocou a Angelita, que com seu jeito manso e pidão sempre me convence de tudo. Fui eu junto com ela, Angelita, que logo inventou que também precisava de identidade. Eu já na minha quarta idade teria direito a atendimento prioritário mas nem quis, pois teria mesmo que esperar por ela; mal sabia eu que a praga do Professor já começava a fazer efeito. Angelita rapidamente foi atendida e eu seria o próximo, mas este próximo não estava nada próximo e lá estamos nós esperando um tempão. Ameacei novamente vir embora e Angelita foi reclamar. Resultado: meu nome não constava no computador e lá me fui pra fazer tudo de novo, e para completar minha raiva, assim que terminei, acharam a primeira ficha. Como já não tinha ninguém no posto fui direto tirar as digitais mas no curto espaço percorrido dei uma olhada no preenchimento e lá estava como minha mãe, minha ex-mulher, da qual me separei há quase vinte anos. Voltei para fazer a correção e a pessoa tinha saído, parece que teve uma dor de barriga, e nem vi se voltou. Uma outra pegou, corrigiu(?) e mandou eu sujar meus dedos. Fiz, mas rapidamente ela constatou outros erros e lá vou eu novamente na minha via sacra. O pequeno erro agora era que na minha certidão de casamento constava minha mãe como pai e a ex como mãe. E eu imaginando que o casamento gay fosse coisa recente!
Afinal, porque descobri que era praga do passarinho? Quando chegamos da primeira viagem, onde não aceitaram minha identidade, ele me irritou com alguma coisa e eu o chamei de “carteira de identidade falsa”, e na viagem seguinte, as minhas três ou quatro é que eram falsas. E com efeito retroativo, pois até a certidão de casamento, feita há mais de trinta anos, também estava ruim. Tô achando que, pelo alcance, podia ter chamado esta de praga de urubu, e daquelas que pegam em cristão!
Agosto de 2013.