quarta-feira, 27 de março de 2013

Parece que consegui reverter o BLOG ao formato original, que menos charmoso mas bem melhor de ler. Como teste vou postar algo. Se der certo continuarei postando.

MODERNIDADE

Sol a pino, mulheres (ocidentais) de burca
Suando em bicas a colher abóboras.
Crianças dão sal ao gado, embalam verduras
Trabalho no campo: exaustivo, inglório, ilegal.

Um ninho de passarinhos, com fugas e cantos
Ao lado da casa “sede”, nem sequer é visto
Não há tempo para deleites, romantismos
A sobrevivência é que lhes dita o dia a dia.

E o trabalho infantil, e a extorsão das mulheres
Vai parar na minha mesa, normalmente farta
E na de gente ainda mais exploradora.
Triste ser humano que seus escravos perpetua.

Os burros de carga coexistem com avançadas
Tecnologias, e estas que a bem poucos beneficia.
Bela musa me diz, como se pode escrever poesia?
Preciso que um bom médium me evoque

De Castro Alves o espírito pra escrever com alma
Sobre escravos modernos, que nem são africanos
E um encosto de João Cabral que me transmita
A fórmula mágica de dizer que a miséria é bela.

Mas a não muitos quilômetros, já na cidade grande
Mesmo que forçado, o povo pobre faz a poesia
Empurrado morro acima na bela montanha
Que desmorona em versos que à musa contraria.

E à noite, quando as luzes mais baixas e mais ricas
Sucumbem à imensidão de vaga-lumes
Me regozijo e, pra não dizer que não falei de flores
Vejo ao longe a bem alto uma via láctea. Belíssima!

Março, 2013