terça-feira, 19 de novembro de 2013

AVES E OUTROS BICHOS...ENCANTADOS.

A Cigarra, as Formigas e a Cachaça.


Minha mãe sempre falava que bem-te-vis se disfarçam, que são assim como os agentes secretos entre os pássaros, e eu ficava imaginando como ele se portaria de agente da CIA ou de James Bond. Como em outros textos andei xingando os mesmos (os pássaros, não os agentes) e principalmente uma fêmea que me comeu uma farofa preparada no Ceará e, não satisfeita, após cometer tão bárbaro crime, ainda veio me zoar. Mexer em farofa de cearense ou baiano é briga na certa. Bom, parece que a moleca é vingativa pois deixou baixar a poeira, já que vingança é um prato que se come frio, e atualmente, não só disfarçada mas também invisível, tem entrado aqui em casa e detonado o meu outro sagrado objeto de desejo – a bebida. Meu estoque se reduz em razão quase geométrica enquanto eu só consigo repor em razão aritmética. E ainda dizem que esta é água que passarim não bebe.
Se eu não tivesse este terrível, perigoso e declarado inimigo e ainda, se estivesse um pouquinho de bom humor (mas nem me lembro mais o que é mesmo isto) poderia por a culpa no tal do aquecimento global, pois com o alto teor etílico a bebida estaria evaporando rapidamente mas, apesar do verão, tem por aí uma outra moleca – la nina – conhecida como o “ar condicionado de Deus” mas que na verdade deve ser outro bem-te-vi em uma forma mais extravagante de disfarce, e não deixa o verão ter o calor de costume, aí não tem jeito, é a bem-te-vi mesmo, quem está ingerindo meu ouro.
Quando ela não era invisível eu consegui identifica-la por duas vezes. Na primeira estava travestida de pomba e minha filha sofria com a dita cuja, pois todos os dias ela vinha cedinho acordar minha bela Rose e depois ficava bicando-lhe os pés até ela lhe dar comida. Só não funcionou melhor porque nós tínhamos um vizinho médico que tem fobia a pombos, diz que é hospedeiro de muitas doenças e ordenou a um empregado a execução do pássaro duplo. Deste crime não fui testemunha, portanto pode ser que ela, esperta e desconfiada como são os agentes secretos, além de muito duros de morrer, tenha mesmo é fugido ou se transformado em um inofensivo siamês que logo apareceu no outro apartamento.
Como eu já era portador de má fama, natural e injustamente, levei a culpa, pois alguns dias depois houve uma invasão de minúsculas formigas e tudo que foi bem-te-vi sumiu da rua. E ainda, para corroborar minha teoria, elas viviam dançando na boquinha da garrafa, bebendo minha cachaça, é claro, mesmo esta estando sempre ao lado de outra com mel, mas que nunca era molestada. Tive que contratar um dedetizador e o miserável chegou com umas, segundo ele, novas tecnologias. Aplicava injeção nas coisicas e me nomeou ajudante de enfermagem. Minha tarefa: pegar uma por uma as formigas e localizar suas minúsculas bundas para que ele aplicasse a porção mágica. Como sou rupestre devo ter falhado na execução de tão nova tecnologia e tive que pagar sem que os passarinhos/formigas morressem. E aí quem morreu mesmo foi o fulano pois eu, puto da vida por ser roubado e feito de babaca, roguei-lhe uma bela praga, daquelas que o maestro Jobim chamou de “praga de madrinha”, que não tem perdão. Foi vingança de ansioso, não deu tempo o tecnólogo subir o morro inteiro, bem antes disso foi atingido com meio vidro de azeitonas no meio da cara. Foi direto pra Maruípe, não sei se obra de um agente secreto ou de traficante de drogas, ou ainda, um disfarçado no outro. Roubando a frase de meu amigo Rodrigo Souza: comigo é assim!
Eu sempre soube que com injeção se dá é remédio, e as formigas também pensam dessa forma já que rapidamente se multiplicaram e ficaram bem mais fortes, e aí sim, já dava pra admirar as bundinhas delas. Contratei um novo mata-formigas, mas antes dele começar seu trabalho, fui logo apelando pra ignorância e contando como morreu o anterior. Ele deve ter acreditado, pois há vários anos não se encontra uma só formiga, nem pra fazer remédio.
Meu inteligente leitor já sabe onde está a cigarra, né? Minha falecida mãe deve ter lido La Fontaine, com certeza às escondidas, pois ela dizia que não sabia ler, embora tenha vivido 90 anos sempre aprendendo. Mais um disfarce, e bem duradouro.

Stênio, na idade da pedra lascada.

sábado, 9 de novembro de 2013

UMA DAS MINHAS MAIS BELAS PÉROLAS

BERNADETH, QUE NOS MOMENTOS MAIS DIFÍCEIS ESTEVE SEMPRE AO MEU LADO, E SEU OMBRO MUITAS VEZES FICOU BEM MOLHADO. ME RECONDUZIU À VIDA, QUANDO EU PENSAVA QUE NÃO MAIS A TERIA.


Leoa Saciada
Ela rugiu alto durante muito tempo
Amedrontou inimigos, afugentou feras
Mas sua língua áspera que lhe servia de arma
Muito útil, para lamber a cria também era.

E nesta dualidade, entre a força a e leveza
Encontrou o equilíbrio, como um regalo
Sem muitas oscilações tocou a sua vida
Sabendo o que queria e como pegá-lo

Com o tempo suas garras ainda afiadas
Só queria aos semelhantes, acariciar
E aposentou também os seus rugidos
E assim Bernadeth foi psicologar

Penetrar não mais na carne, mas na alma
Daqueles por quem fosse interessada
O pão não lhe custava mais o suor do rosto
Ela, finalmente era, leoa saciada.

Agosto de 2013.