terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Contradições

“Uma parte de mim é permanente
Outra parte se sabe, de repente”. Ferreira Gullar.

Se em um momento posso ser a alegria da suave brisa,
Brincando com as flores na primavera,
Em outro posso ser o frio e cortante vento
Das madrugadas de inverno polar.
Posso ser o calor da areia do Saara
Ou dos corações de jovens amantes,
Ávidos por ficarem a sós.
A sede do peregrino ou a saciedade após o sexo amoroso e lento.
Fui burro de carga e,
Depois, dono dos burros, mas...
Nenhuma dessas profissões me satisfez.
Se escravo não quis ser, também não poderia
Ser feliz em dominar, reproduzir a servidão humana.
Se algumas vezes passei fome,
Noutras me empanturrei,
Sem que me sentisse compensado.
Por vezes fui a palavra ferina,
Noutras fui puro mel
Adoçando a mim mesmo pois a quem me era mais caro.
Mas de certa forma me culpo por tanto egocentrismo,
Eu queria mesmo era adoçar o mundo!
Se no frio foi fácil ser cobertor,
Não posso falar o mesmo de quando tentei ser orvalho, no calor.
Muitas vezes procurei navegar
No profícuo mar de tranqüilidade do zen-budista,
Mas ancorava na tranqüilidade inócua e inóspita de um mar de la luna.
Se já fui um número de INSS ou PIS,
Também já fui versos.
Na criatividade romântica de uma bela poetisa.

Stenio, setembro de 2008.

Um comentário:

  1. Como comentei em outro local, este texto foi o primeiro que alguém sugeriu que eu publicasse em livro ou em blog. Pus aqui e a reação foi muito boa sendo o segundo mais visto e eu prometi que se a pessoa que sugeriu tivesse razão eu publicaria um poema que fiz pra ela, mas estou em dificuldades com o blog pois não encontro a forma correta dos espaçamentos (vide Caminhando/Vivendo) então vou tentar por o poema apenas no Facebook.

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