quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Passarinho Raivoso

Acho que o urubuzinho ainda está puto comigo pois nada aqui quer funcionar. Dois computadores, o telefone, chuveiro elétrico e até eu, mas isso é coisa mais antiga.


Praga de Passarinho

Como sou muito bom no ramo de rogar praga, logo me vieram à mente vários títulos para este texto. Praga de Urubu, que no Ceará, minha terra, dizem que é muito forte, tanto que faz o de baixo cagar no de cima. Praga de madrinha que de acordo com Tom Jobim, não tem perdão, pega que nem chiclete em sola de sapato. Praga de turco, que certa vez fui vítima de uma, e como turco gosta de economizar em tudo, ele aproveitou e jogou logo em dois. Tive que utilizar meus santos fortes, e me livrei da bendita, e aí o outro alvo caiu sobre a minha mesa, quebrou esta e a bunda, foi parar no hospital. A mesa quebrada não satisfez o praguento e à noite minha parte ainda estava em vigor, aí um outro caiu no meu lugar indo parar no mesmo hospital. Praga de baiano, que normalmente vem acompanhado de uma boa mandinga, e aí quem se livra? Há algum tempo tivemos aqui na Caixa Federal do ES um gerente regional muito chato que desagradou a bastante gente. Juntamos eu e mais meia dúzia de bons de praga mas, o melhor que conseguimos foi mandá-lo para a Bahia. Eu fiquei a duvidar de meu poder pragatório mas, menos de um ano depois o disgramado ganhou uma de baiano. Resultado: perdeu a função e como prêmio foi atender no balcão de uma Agência onde o gerente era um inimigo seu. Acho que a minha, como a do turco, ainda estava em vigor.
Com tudo isso, por que prevaleceu então Praga de Passarinho? Ora, se eu pusesse o nome de Praga de Urubu, ele poderia alegar preconceito de cor, pois é meio escurinho; se fosse de madrinha eu estaria sendo injusto com estas que normalmente são boas e meu passarinho não o é; de turco, aí seria injusto com ele pois turco não dá nem bom dia de graça e ele me dá: faz muitos filhos, que eu vendo para os mercadores, como os turcos fizeram com José. Então só restava Praga de Baiano e quando ele chegou aqui era mesmo meio baiano pois só queria saber de cochilar, tanto que ganhou o nome de Professor, em homenagem a minha mulher, que ensinava na escola pública, acordava muito cedo e passava depois o dia dormindo. Mas ele passou de fase e hoje é bem esperto: pra fazer filho e rogar praga!
Passadas as preliminares, e como não vai ter meio de jogo, vamos aos finalmentes. Que praga braba foi que este moleque me arranjou? Depois de 13 (tinha que ser 13?) anos de briga de morte com a Caixa Econômica, eu finalmente venci um round, e recebi uns trocados. Rapidamente minha nega inventou que eu tinha que tirar passaporte, e nem vou dizer pra onde ela quer ir, pra não dar azar ou ganhar mais uma praga. Fomos então tirar o tal do passaporte e tinha que passar primeiro no computador. Passamos e ele, nem sempre tão inteligente, nos mandou para a sede da Polícia Federal em São Torquato, Vila Velha, na divisa com Vitória. Lá pegaríamos somente uma informação mas, os bem mais inteligentes humanos nos mandaram lá para o Shoping Vila Velha, que é no outro extremo. Eu já quis voltar dali, mas minha paciente mulher insistiu e lá fomos nós. Conseguimos a informação mas, mas, mas, eu teria que tirar uma nova identidade porque a minha é de 1969 (será que não vale porque foi emitida pela ditadura militar?). Aqui eu zuretei e falei que não ia mais pra lugar nenhum, que ela fosse com quem quisesse, mas ela não se deu por vencida e na calada do dia, convocou a Angelita, que com seu jeito manso e pidão sempre me convence de tudo. Fui eu junto com ela, Angelita, que logo inventou que também precisava de identidade. Eu já na minha quarta idade teria direito a atendimento prioritário mas nem quis, pois teria mesmo que esperar por ela; mal sabia eu que a praga do Professor já começava a fazer efeito. Angelita rapidamente foi atendida e eu seria o próximo, mas este próximo não estava nada próximo e lá estamos nós esperando um tempão. Ameacei novamente vir embora e Angelita foi reclamar. Resultado: meu nome não constava no computador e lá me fui pra fazer tudo de novo, e para completar minha raiva, assim que terminei, acharam a primeira ficha. Como já não tinha ninguém no posto fui direto tirar as digitais mas no curto espaço percorrido dei uma olhada no preenchimento e lá estava como minha mãe, minha ex-mulher, da qual me separei há quase vinte anos. Voltei para fazer a correção e a pessoa tinha saído, parece que teve uma dor de barriga, e nem vi se voltou. Uma outra pegou, corrigiu(?) e mandou eu sujar meus dedos. Fiz, mas rapidamente ela constatou outros erros e lá vou eu novamente na minha via sacra. O pequeno erro agora era que na minha certidão de casamento constava minha mãe como pai e a ex como mãe. E eu imaginando que o casamento gay fosse coisa recente!
Afinal, porque descobri que era praga do passarinho? Quando chegamos da primeira viagem, onde não aceitaram minha identidade, ele me irritou com alguma coisa e eu o chamei de “carteira de identidade falsa”, e na viagem seguinte, as minhas três ou quatro é que eram falsas. E com efeito retroativo, pois até a certidão de casamento, feita há mais de trinta anos, também estava ruim. Tô achando que, pelo alcance, podia ter chamado esta de praga de urubu, e daquelas que pegam em cristão!
Agosto de 2013.

4 comentários:

  1. Ufa! Quantos desprezares? Mas o professor não tem culpa! Ás vezes nossas crendices e adágios nos permitem a tais sentimentos,justamente para transferir algo errado, em que a impaciência é mera figurante. Coitado do belo e paciente passarinho! E se menciono as qualidades, o porquê priva dos ares da impaciência do homem? Você o deixou tão aprisionado que mal se encanta com que ele possa lhe oferecer, mesmo abstratamente.
    Infelizmente, coisas aleatórias acontecem, ruins ou boas. Aceitar ou encorajar, vai muito além de estar engaiolado as formalidades burocráticas.
    Ótimo texto!

    Abraço.

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    1. Relendo o texto e os comentários vi que este merecia uma resposta e eu não o fiz. Espero que ainda chegue a tempo. Eu não tenho crendices, até ateu eu sou, e os passarinhos vivem soltos, embora o Professor, não mais, faleceu. Disse vivem porque na mesma época do falecimento ganhei um outro, e este é filho e amigo, vivemos em muita paz.

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  2. Burocracia e displicência! Assim podemos definir os acontecimentos.
    Minha falecida mãe quando se casou não pegou a cópia da certidão de casamento e por isso ao invés de passar a assinar o sobrenome do seu pai acrescido do do seu marido, por sua conta passou a assinar seu nome mais sobrenome da família da mãe acrescido do sobrenome do meu falecido pai seu esposo.
    E assim registrou o sobrenome dos 7 filhos que teve.
    Acontece que meu pai morreu muito prematuramente aos 44 anos de idade.
    E ao se realizar o inventário constatou -se que não éramos filhos de nossa mãe, daí vai outra história burocrática. Só comentei porque certamente você não deve ter prestado na época atenção à sua certidão ou o seu caso foi erro burocrático mesmo?

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    1. Desculpa Aguiar, não tinha visto o comentário, nem sei porque já que sempre que vejo notificação, dou uma olhada. Então vc viu até meu passarinho encrenqueiro. Nós temos uma briga de longa data, acho até que meu complemento salarial não sai logo por praga dele pois um dia desses eu saí (coisa rara) para ir em Vila Velha e ele simplesmente fechou a Ponte, só passava alguma coisa de volta. No outro dia tinha algo pra mim no site do TRT, e o moleque travou tudo. Mas eu me vingo e qualquer dia desses eu boto ele na gaiola, baseado na Lei Maria da Penha, pois ele bate na esposa. P.S. Vai ver o seu comentário também foi ele que bloqueou e, sim, no caso dos meus documentos, foram mesmo erros burocráticos, todos provocados pelo fulano.

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